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domingo, 7 de dezembro de 2008

MEU SUCURIÚ - CICLOVIAGEM DA NASCENTE À FOZ DO RIO SUCURIÚ




Este projeto busca uma visão pessoal e intimista de um Rio: da sua nascente à foz.
Não há, porém, uma corrida em busca da perfeição, pelo contrário, há uma vontade enorme de viver e conhecer o mundo. E com certeza esta busca começa em mim mesmo e tem o tamanho de minha eternidade

SOBRE ACHADOS E PERDIDOS






Quando decidimos nos desgarrar assim, achamos e perdemos algumas coisas. Nem sempre um preenche o outro – em verdade, nunca. Não é assim que funciona. Os espaços vazios jamais são preenchidos, toda perda é irreparável. Nada volta igual à nossa mão e nada vem pra suprir uma falta. Assim é com os sentimentos, com o amor, com o querer da gente e com os viajantes solitários.
Ser humano tem mania de achar que pode encontrar um novo amor e esquecer o antigo: amarga e doce ilusão de humano.
As coisas não se substituem.Por isso uma viagem solitária é importante na vida de um homem. Aprenderá ele que todas as coisas são insubstituíveis. Não podemos simplesmente, trocar o pneu por outro sem de certa forma afetarmos o caminho. Quando você quer chegar rápido, as coisas têm que dar certo. O contrato tem que ser assinado rápido, o negócio tem que ser fechado, pois o troféu te espera, o mundo te espera. As pessoas te esperam. Esperam muito e muito de você. .......Mas...se viajar só e o pneu da bicicleta furar, se a corrente quebrar. Puxa! e se você cair, se chover, se esquentar, você vai ter que consertar ou, se não der, vai ter que empurrar, isto, se puder. Vai se molhar o quanto puder, pois valerá a pena. E não haverá troféus, festas, medalhas, prêmios, dinheiro, nem os outros.....só você.
E você nem sabe o tanto que isto vale a pena!
Você aprenderá que o caminho mais rápido nem sempre é o melhor caminho e que sempre valerá a pena, parar para ver cachoeiras, abraçar os pais, beijar os filhos, ligar para o amigo, declarar amor a quem se ama. As pessoas são cachoeiras em nossas vidas. Aprenderá que pneu fura. As coisas acontecem. AS COISAS ACONTENCEM!!

Mas você continua.

Por isso acredito que as coisas são insubstituíveis....este momento é único....no seu fôlego....no piscar de olhos....com ou sem aventuras você vai envelhecer e com certeza morrer e em algum momento, nem que no último saberá que as “coisas” são insubstituíveis, os instantes, as lembranças......a sua VIDA.





Pois, para mim:


Em algum lugar deste Rio
Bate o meu coração
Ouço o coração
Sigo o rio




Edmilson Tavares – 28/10/2008

MEU HERÓI É UM LOUCO




Meu herói é um louco

Para muitos era loucura
Um sonho impossível
Algo irreal, inalcançável.

Como alguém sozinho andaria 500 km
De bicicleta, com mochila, barraca e outras coisas.
Era loucura

Como alguém pedalaria em um lugar desconhecido
Sem um mapa, GPS e todas as outras parafernálias tecnológicas.
Era loucura

Mas pra mim isso não era
Pois o que adianta ganhar de um adversário que já conheço
Pedalar em um lugar comum
Viver o que já vivi
Isso sim é loucura

A cada dia vejo que você não é um pai
Mas sim um grande herói, que me ensina a cada dia.
Que fazer o mesmo é ser louco, o diferente é o normal.
O errado pode ser o certo, o novo é mais gostoso.
E se para os outros ser louco e desfrutar de novas experiências
Sim, eu também quero ser louco.

Para meu herói, uma mensagem de seu fã número 1.

Valeu pai, mais uma vez.

Rafael Montalvão.

SOBRE DIAS DE SOL QUENTE E NASCENTE DE NÓS MESMOS



































Ao som de araras despertei em Chapadão do Céu/GO. Ligo o mp3 e Ed Mota canta pra mim: “Nascente” – “clareia manhã...” - Deve ser bom presságio.
Nascentes – é pra lá que eu vou.
Depois de 700 km de Ribeirão Preto-SP a Chapadão do Céu/GO eu definitivamente vou começar a pedalar – pela meiga Rosângela que apóia minhas loucuras, pela Laura e Rafa, pelos amigos que duvidam e acham graça, por mim e pela minha eterna Mãe.
Vontade exagerada de viver.
06:45 e lá vou eu em direção ao Parque Nacional das Emas e 11km pra frente entro à direita e sigo pela Fazenda Sucuriú que já fica em MT. Mais 10 Km e lá estou eu na nascente.
Aqui o rio brota da terra em inúmeros lugares – ao mesmo tempo e em tempos diferentes. No varjão ele se espalha, se mistura. Duas nascentes – Água Amarela e Sucuriú – um para cada lado – ali se misturam “se emendam” e depois nunca mais se encontrarão. Acho que no fundo é um só.
Água emendada – disse-me um velho. Água emendada ou misturada? Perguntei. Aqui emenda, meu filho – disse sorrindo.
Estou pisando no coração do aqüífero Guarani. A maior reserva de Água doce do mundo e é incrível como este campo alagado e plano confunde o meu olhar.
Circundei 10 km do varjão, olhando e tentando entender aquilo.
_ Uns 200 metros pra frente a água fica borbulhando. Falou-me um rapaz que passava de jipe.
Passa pouca gente por aqui. Fico torcendo, pois toda hora tenho a sensação que estou perdido ( é tudo igual para o olhar).
Disseram que a terra era ruim – “Só Cerrado, nem gado come. Só botando fogo e aí os bois comem os brotos” – Mas, um dia misturam calcário e adubo e a terra ruim virou terra boa e fértil. A acidez era perfeita e deu de tudo e com fartura (algodão, milho, soja e cana)
- Mas isso não é ruim para o ecossistema?
Aluízio Cabral, presidente da Sociedade Ecológica de Turismo Ambiental de Chapadão do Céu e um apaixonado por corredeiras, defini bem:
- “Não é o que plantar, mas como plantar” Veio o algodão, a soja e agora a cana, mas isso não assusta mais. Segundo ele qualquer agricultor da região sabe que não dá para produzir se não preservar o meio ambiente.
Não é por causa do IBAMA (só 06 pessoas na região), nem políticas estaduais ou federais, mas sim, a necessidade de se manter o negócio: A terra tem que continuar viva. Será?
As curvas de níveis são feitas atualmente com esmero e corretamente, porque, caso contrário o calcário, o adubo se perdem nas enxurradas, na lama e a erosão acaba com a terra. As nascentes são protegidas, assim como as reservas, porque caso contrário os impactos ambientais vão fazer as chuvas minguarem, e sem chuva – sem grãos - sem riqueza – sem produção.
A Natureza fiscaliza a vida e usa suas armas – ainda bem! Mas até quando?


SOBRE BORBOLETAS E IPÊS AMARELOS










































Beijo de borboleta, muita gente já conhece. Pelos menos as crianças. Abraço e sorriso de Ipê Amarelo, só poucos conhecem. É uma coisa com gosto de Lua nova e flor do campo. Tem cheiro de viver-viver e corredeira de rio.
Em borboletas, eu e minha irmã há algum tempo associamos a presença delas à presença de nossa Mãe.
Em forma de borboleta ela vem nos visitar. Fica na sala durante o dia e á noite vai para o quarto. Aparece em lugares improváveis e em momentos inesperados, como um telefone da mãe, uma intuição, uma preocupação. É estranho e mágico.
Quero crer e creio – Uma doce coincidência sobre borboletas encantadas. Mas, é preciso estar encantado também para perceber.
Bem! E o Ipê Amarelo?
Era a árvore predileta de nossa Mãe. Onipresente em suas cataratas de flores. Em frente de casa ela plantou um.
Ipê é pra ser visto. É metido por natureza. Planta convencida. Tem motivos de sobras.
Então, não tinha como eu ir à nascente do Rio Sucuriú e não levar sementes de Ipê para plantar. E assim o fiz. Plantei duas sementes no aterro (Aterro do anjiquinho - Águas emendadas), na vertente entre o rio Sucuriú e Água Amarela e por algum motivo deixei outras sementes para plantar em outro local, no entorno da nascente.

Calor e solidão, quando se junta, literalmente é fogo. Subi na bicicleta e sai do aterro e segui á direita contornando o varjão. Uma trilha apertada em meio ao cerrado margeava o varjão e num rompante gritei que era por minha Mãe que visitava o Rio, que plantava o Ipê e esperava que ela me guiasse nesta viagem.
Neste instante uma Borboleta colorida, projetou-se na frente da bicicleta e numa dança de “zigue e zague” ia em enleios macios e graciosos orientando o caminho. Uma sensação de paz e harmonia veio em mim e com a Borboleta me guiando chorei muito.
Após uma subida e uma nova curva, a trilha se abriu e a Borboleta pousou suavemente à minha frente. Quase cai tentando desviar-me e acabei por parar. Olhei para o Rio Sucuriú encoberto pelo varjão e vi que dali se tinha a mais bela das vistas. Ali plantei o Ipê, ao pé de uma pedra com um formato sutil e de uma simbologia mágica.
Orei e chorei muito, de alegria e saudades.
Agora acredito cada vez mais em Borboletas que beijam e em Ipês Amarelos que sorriem e abraçam.
Se for um dia a nascente do Sucuriú e encontrar um Ipê Amarelo, saiba que tem nome: Amor de Mãe (Lucy).

PARQUE MUNICIPAL NATURAL SUCURIÚ
















Parque Municipal Natural Sucuriú



O lugar é lindo e bem cuidado. Monitores por todos os lados garantem segurança e diversão para família, aventureiros anônimos e amantes do ecoturismo. Vale a pena.
Fotos é fartura. Você se perde no melhor ângulo, na melhor paisagem.
Tirolesa, corredeiras, rapel tem de tudo.
Conheci o Elias: “ Foi eu que construí a maioria das coisas. Deu trabalho descer as pedras da escada. Encontrei uns loucos. Desciam correndo (falava e ria feliz ao lado da esposa) Venho aqui olhar e a cada dia mais me apaixono pelo lugar” O Elias é artista. O Professor Wilson uma referência no lugar.

O lugar é lindo....lindo de viver!!!!!!!!!!!!!!

SOBRE CORREDEIRAS E PONTE DE PEDRA






































Sobre corredeiras e a Ponte de Pedra


Calor: 40º C – As seriemas então em baixo das pequenas árvores, com o bico aberto. Seriema tem cara de espanto. Deve ser porque come cobra. Elas me olham e ficam duras. Brincadeira de “Stop” – deve ser!?– Sigo. Não participo. Tá quente.
Ponte de Pedra é por causa da pedra que quase atravessa o rio.

Homem quis fazer ponte de verdade no local e teve que fazer duas. Tem uma ilha no meio do caminho (oh! Drumont). Uma ponte só não dá nessa terra.
Ilha aqui tem buraco, parece esponja e vaza em buracos incontáveis. Água é brava e corredeira é bonita de ver.
Almoço no BIN (Fazenda e pousada para pescaria) tem frango caipira, peixe frito, arroz, feijão e salada.
Professor Wilson, Secretário de Turismo e Meio Ambiente de Costa Rica, mostrou-me belezas escondidas daquela terra. Apaixonado pelo que faz ele tem espírito de “bandeirante” e segundo ele Costa Rica/MS é o lugar mais lindo do mundo. E ele me convenceu. Se for em Costa Rica procure a Secretaria de Turismo o Prof. Wilson e sua ótima equipe.Eles efetuaram marcação por GPS de todos os lugares exóticos e belos da região, portanto você pode fazer seu roteiro sem se perder. Qualquer um pode descobrir estes tesouros

SOBRE A ÁGUA SANTA


















Depois de percorrer 53 Km na estrada que liga Costa Rica/MS à Paraíso/MS, você entra 08 km à direita e chegará (olhando com calma as placas) à Fazenda Água Santa.
Lá a nascente se mostra. Olho d’água é amarelo, as “meninas” são amarelas e água transparente. A areia canta se esfregada (é pura verdade eu ouvi e vi!!).
Impossível afundar ali, mesmo quem queira.Mesmo o olhar não afunda. A água empurra pra cima. Corpo flutua.
Quando a gente chega e vê o círculo perfeito não entende nada. Silêncio do local faz a gente ouvir a respiração das árvores. O vento sopra devagar, para não mexer no lugar.
Se batermos palma, a água pula e começa a borbulhar – se mostra viva.
Uma corda amarrada te dá apoio para o começo. Você segura a ponta e vai entrando e afunda como em areia movediça, mas é mentira como brincadeira de São João, naquele olho mágico. A gente afunda e parece que estamos sendo engolidos, mas uma película de água se forma em volta da gente e sentimos que estamos levitando (é diferente de boiar). Mulher, criança, homem com o tempo perde medo e brinca de lua no local – brinca de flutuar.
Será que a Lua é assim?
Será que a Água é Santa?
A natureza brinca de faz de conta no meio do mato.
Ah! E a areia amarelo-ouro se aproveita para grudar em você. Entra no calção, no cabelo, cola na pele – Ela brinca também.
Depois quando saímos incrédulos, vamos para a bica d’água: É obrigatório. A areia que canta entrou no calção e você fica pesado, feito bebê á noite. Não tem como tirar se não for na Bica d’água.
Dizem por aqui que Bica d’água foi inventada para tirar areia que canta do corpo da gente. Eu acredito!

SOBRE BICHOS DO MATO







“Há praga de porcos do mato (cateto), arrasam plantações de milho e dobram a cada ano”.Duas crias por ano, dizem os ribeirinhos e por não possuírem predadores naturais (Onça), crescem e se alimentam fartamente dos milharais, numa cena inusitada e surrealista. Há caçadores e de certa forma o IBAMA tampa os olhos para os mesmos, que suporta esta nova “cadeia alimentar”, que por mais cruel que pareça, acaba por controlar a proliferação dos tais “porcos do mato”. Evidentemente que matar animais não é o certo, até porque não foram eles que fizeram o descontrole ambiental, mas que algo deve ser feito, isto deve! Seria estúpido não encaramos esta situação de forma ecologicamente correta, sem termos em conta que existe uma alteração à ordem natural das coisas. Não há forma alguma de ser feito algo para esta situação sem ouvirmos os moradores locais e tirarmos deles as soluções ambientais para a região.

Tem muito gavião (nunca vi tanto junto – uns 10 cada bando): ficam à espreita do movimento de cobras, lagartos e codornas, quando a terra é revirada pelos tratores – é pura festa – E lá vão eles em vôos rasantes se fartar. Aqui a inércia em alguns momentos garante a vida.
As Emas são graciosas e charmosas. Desfilam esbeltas na planície extensa.
As Seriemas encaloradas se escondem sobre os galhos e descansam sobre as poucas árvores. Olham-me assustadas com o bico aberto e cara de eterno espanto.
Eta bicho espantado! – talvez dissesse Manoel de Barros.
Onças têm. Todo mundo fala, mas comem bezerros é mais fácil que os catetos.
Canário, João de Barro e um mundo de pássaros que voam sobre mim e em mim.

SOBRE RIBEIRÃO DAS LAGES E HISTÓRIAS QUE ME CONTARAM














O sol está quente e os gaúchos, e aqui, são muitos se empolgam como minha aventura e com os lugares que conheci.
- Quantos Km? Como é que é? Você está a dois dias aqui e conhece mais que nós.
Sabe-se lá se conheço mesmo. Talvez porque vou olhando!?

Esqueci de falar do Posto Vigilância Sanitária de Goiás. Era meio dia quando cheguei lá e me deram comida e conversa boa. “Falta uns 15 km para Lajes”, disse o fiscal.






HISTÓRIAS QUE ME CONTARAM E RECOMENDAÇÕES QUE ME DERAM




  • Porcos do mato: “Vi mais de cem juntos. Moram nos milharais, é praga. Comem e dormemlá”.




  • Onça: “Onça come bezerro é mais fácil, bicho do mato dá trabalho”.




  • Varjão Sucuriú (nascente): “Fui pescar na nascente e ficava sobre o barro dentro do varjão e comecei a sentir as placas se movendo, e água começou a brotar. Sai correndo”.




  • Gavião: “Gavião tem muito. Eles ficam perto dos tratores, esperando os bichos correrem e se mostrarem. Fazem as festas com codornas e cobras”.




  • Recomendações: “Quando chegar lá ligue nem que seja a cobrar, falando que chegou bem. Diz que é o rapaz da bicicleta”; “Cuidado com o sol”; “Tem uma cachoeira, atrás daquela mata” “Tem outra no final desta estradinha”.